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Por Bruna Vian Fetz.

Agosto já se encerra e, embora não seja bem um fim, porque a valorização é contínua, nosso ciclo de homenagem aos advogados vai terminando. Com isso, olho para tudo que nossos colegas escreveram ao longo desse mês e me sinto inspirada a escrever sobre esse tema, que nos emociona tanto.

Culturalmente, nossa sociedade ainda tem a crença de que temos que escolher uma carreira logo cedo, aquela profissão que você vai ser pro resto de sua vida. A ideia de que o sucesso somente acompanha aqueles que assim o fazem é muito forte, mesmo com suas falhas. E digo isso para reforçar o quanto é difícil escolhermos uma carreira, talvez por não ser algo naturalmente humano.

Como vivo neste mundo de meu Deus, também me vi diante desse dilema: o que fazer da vida? Fui pela eliminação. Sempre gostei muito de tudo que fosse social e humano: sociologia, filosofia, história e por aí vai. Mesmo sendo uma excelente aluna, com notas altas em física, química, matemática e biologia, eu queria mesmo era ir pro caminho que considerava mais difícil e que me desafiava mais. Por um momento, eu estava certa de que faria Relações Internacionais. Queria estudar em Brasília e seguir na carreira diplomática. E tive ainda outros sonhos, como uma menina que queria ganhar o mundo.

Queria sair estrada afora em busca de pessoas e de problemas para resolver. Da humilde Videira, cidade de 50 mil habitantes no interior de Santa Catarina, onde nasci e cresci, eu sabia que precisava partir. Com os recursos que eu tinha na época e diante das circunstâncias que se apresentavam em minha vida, optei pelo curso de Direito, que era o que eu imaginava ser a base de quaisquer relações sociais.

E, devo admitir, esse curso ganhou meu coração. Na época, eu dava aulas de inglês (meu primeiro emprego) e, mesmo adorando meu trabalho e sentindo muito amor pela escola em que eu mesma havia estudado durante anos, logo segui ao estágio jurídico. Fui até o Fórum e consegui uma vaga de estágio não remunerada no Juizado Especial Cível. Depois, consegui uma oportunidade em uma das Varas Cíveis daquela Comarca e, por fim, no gabinete do juiz. Foi uma experiência, sem dúvida, enriquecedora.

Mas chegou um momento em que o magistrado que havia me contratado obteve uma promoção, assumindo uma outra Comarca. Fiquei extremamente chateada com a situação, quando me dei conta de que essa vida de transferências e de dependência não era pra mim. Embora trouxesse segurança financeira, a carreira pública tinha alguns aspectos que não me animavam. Eu queria ser livre para escolher o que fazer.

Em uma família de advogados (pai, tios e primos), resolvi experimentar um pouco disso também. Fiz uma proposta ao meu pai, que na época tinha sua inscrição na OAB ativa. Ele topou, já que sempre apostou em mim e me apoiou em todas as minhas escolhas, por ver que eram sinceras e com o propósito de ser uma pessoa melhor.

Ele tinha uma mesa e um espaço livre nos fundos da casa, onde eu comecei a atender como sua estagiária, embora eu fizesse quase tudo sozinha, pois ele tinha outras atividades. E deu muito certo por um bom tempo. Quando as coisas começaram a tomar uma maior proporção, eu, que havia pegado o gosto por lutar pelos direitos das pessoas, quis me profissionalizar. Falei com meu pai, que mais uma vez me deixou livre para seguir meu coração, e fui em busca de um estágio em um escritório.

Passei a trabalhar no escritório que eu mais admirava na região em que eu morava.  Fui me desenvolvendo profissionalmente ao longo dos 7 anos em que permaneci no escritório, onde a advocacia pulsa há mais de 20 anos. Num ritmo frenético e intenso, mergulhei de cabeça nessa carreira. Aprendi muito além do que a prática jurídica: negócios dos mais variados ramos, mercado, gestão, relacionamento, entre outras áreas e habilidades.

Minha saída ocorreu em razão da vinda para Goiás. Com novos desafios pela frente, olho para trás e vejo que, por todo esse tempo, a advocacia me agraciou com muito conhecimento de vida. Apesar de não ter sido a minha primeira opção, através de minhas experiências passei a olhar para ela e ver o quanto era grandiosa. Uma grandiosidade de magnitude e liberdade, capaz de me encantar e apaixonar. Fui escolhida por ela!

Percebo, assim, que não é a questão de escolher uma carreira. Que tudo é uma questão de permitir que o fluxo da vida nos leve para onde temos que ir. E que é necessário compreender que não precisamos definir o que faremos para o restante da vida, porque ela sempre muda. Precisamos, em realidade, deixar que nossos dons sejam trabalhados pela profissão, qualquer que seja, pois somos pessoas em construção. Essa é minha profissão, mas ouso dizer que todos somos advogados. Sim, porque a luta pelos direitos, pela liberdade e pela Justiça começa dentro de cada um.