Por Nycolle Soares
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 90% das empresas têm perfil familiar. Além de responder por mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB), as empresas familiares também empregam 75% da mão de obra no País.
Na jornada de crescimento das empresas familiares, está sempre presente a dificuldade dessas organizações quando se deparam com a necessidade de que exista a sucessão de seus fundadores. O movimento de transferir a tomada de decisão e gestão de uma empresa para aqueles que vieram depois, pode até parecer um processo natural e simples, mas não é.
Dentro dessa dificuldade estão vários fatores como as próprias formatações familiares, como a formatação das empresas que geralmente não são constituídas para que a sucessão ocorra, pelo contrário, esse pensamento raramente existe e acaba gerando dificuldades enormes quando é preciso que a empresa continue para além da atuação daqueles que a fundaram.
Nesse contexto, falar sobre a sucessão enquanto desafio para as empresas familiares requer cuidado na abordagem, sensibilidade no trato e bom senso na condução. Em todas as pontas, a maneira como o tema é conduzido fará muita diferença em como a empresa poderá se comportar a partir daquele ponto.
Não raro, nos momentos de sucessão, empresas familiares acabam sendo compradas por grupos maiores e mais profissionalizados, justamente pela dificuldade que existe em conduzir esse movimento, fazendo com que a aquisição dessas empresas seja a única opção para que a atividade empresarial permaneça e não exista uma cisão familiar.
Já existe um sentimento de urgência maior por parte das empresas em olhar para suas estruturas tendo como critério de análise a necessidade de que em algum momento esse bastão seja passado, e ao olhar para isso, boa parte das empresas terá que enfrentar a reestruturação societária ou ao menos uma adequação, a implementação de um programa de Governança Corporativa, além da análise das questões tributárias que precisam estar sempre presentes como ponto de atenção.
Quando as necessidades são descritas, aparentemente são etapas fáceis de serem conduzidas, o que não se comprova na realidade, já que em todos os cenários o componente emocional das relações existentes entre os familiares e até mesmo dos indivíduos com a empresa, e o que ela representa em suas vidas, será um elemento que poderá até mesmo impedir o avanço das condutas que precisam ser adotadas.
Ainda assim, evitar o tema e não o colocar como algo que precisa ser tratado não eliminará os riscos, pelo contrário, uma empresa que chega a um dos momentos de sucessão, seja ele do fundador para segunda geração ou da segunda para terceira, sem que exista maturidade empresarial e estrutural, com certeza corre um risco enorme de ter que fazer uma venda, ou até mesmo de assistir o encerramento de suas atividades.
Talvez o grande ponto sobre o desafio da sucessão nas empresas familiares seja justamente a necessidade de que os empresários consigam utilizar as ferramentas jurídicas existentes, para que os seus interesses enquanto sócios possam ser preservados, sem que a sobrevivência de seu legado esteja comprometida, já que nem sempre os interesses individuais estarão alinhados com as necessidades da empresa.
Advogada. Sócia e Gestora Jurídica do Lara Martins Advogados. MBA em Direito Médico e Proteção Jurídica Aplicada a Saúde. Pós-Graduada em Direito Civil e Processo Civil. Analista de Finanças pela FGV. Especialista em Ética e Compliance na Saúde pelo Einstein. Presidente do Instituto Goiano de Direito Digital – IGDD/GO