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Por Rodrigo Han

 

Com atraso de um ano, o cenário macroeconômico norte americano começa a ver uma possibilidade de redução de taxas de juros-base da economia, a partir de meados de 2024[i] – atualmente os títulos de 10 anos estão com retornos ao redor de 3,9% a.a., praticamente o mesmo nível do início de 2023[ii], e a taxa interbancária de curto prazo, usada para empréstimos comerciais na economia norte americana (SOFR) está ao redor de 5,30%[iii].

No Brasil, a trajetória de redução de juros-base da economia já começou, com reduções da taxa SELIC já em agosto de 2023 (com redução do seu ponto máximo de 13,75% para os atuais 11,75%[iv]).

As previsões de taxa de juros básica para o final de 2024 na economia norte americana é de cair para 4,60%[v] e no Brasil para 9,25%[vi].

Essa percepção de aproximação de um momento com menores taxas de juros nas economias foi o responsável por um rally no mercado de ações no final de 2023 com aumento no mês de dezembro dos índices NASDAQ em 5,60%, Dow Jones em 4,90% do Ibov em 12,54%[vii]. Com isso, os mercados de equities representados por estes três índices finalizaram o ano (período de 12 meses) com altas, respectivamente de 44,60%, 16,20%[viii] e 19,00%[ix].

As empresas, tanto no mercado norte americano quanto no Brasil, passaram por um período histórico de baixíssimas taxas de juros e abundância de financiamentos até 2021 e se alavancaram demasiadamente neste contexto.

Nos últimos dois anos, as empresas alavancadas sofreram um impacto negativo triplo nas suas demonstrações de resultados:

  1. redução de crescimento (ou até redução absoluta) de receitas em função das políticas monetárias anti-inflacionárias impostas pelos bancos centrais que levou ao mencionado aumento de taxas básicas de juros e resfriamento das economias;
  2. aumento de custos como consequência da pressão inflacionária criada principalmente pelas políticas anticíclicas aplicadas durante o período da Pandemia (2020 e 2021), o que contribuiu para reduções relevantes de margens operacionais das empresas; e, finalmente,
  3. aumento dos compromissos com pagamento de juros.

 

Tudo isso levou ao consumo de grande parte do resultado das empresas, e muitas delas não conseguiram honrar seus compromissos financeiros essenciais. A onda inicial de inadimplências levou os bancos a restringirem crédito, o que levou a crise da demonstração de resultados para o fluxo de caixa e balanço das empresas com a incapacidade de refinanciamentos.

O resultado desta dinâmica foi um aumento no número de empresas em crise financeira no Brasil, medido pelo número de empresas recorrendo à proteção judicial para renegociar suas dívidas: com total de 830[x] pedidos de recuperação judicial entre janeiro e agosto de 2023, e previsão de que haja mais de 1.200 pedidos em todo o ano de 2023, maior número dos últimos 4 anos.

Ao mesmo tempo que a alta onda de empresas necessitando de uma reestruturação financeira e operacional relevante ainda não acabou – acreditamos estarmos no meio desta onda que deve durar mais 12 a 18 meses – as reduções de taxas de juros e retomada de crescimento mundial devem contribuir para processos de turnaround exitosos.

Dado este cenário, nossa visão é de que os investidores que buscarem alocação de capital em situações de distress empresarial, com as devidas medidas de reestruturação, devem colher bons frutos em um horizonte de 18 a 36 meses.

 

Referências:

[i] https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-12-14/fed-prepares-shift-to-rate-cuts-in-2024-as-price-pressures-fade?embedded-checkout=true

[ii] https://www.bloomberg.com/news/articles/2023-12-29/us-10-year-yield-is-ending-2023-almost-exactly-where-it-started?embedded-checkout=true

[iii] https://sofracademy.com/current-sofr-rates/

https://www.cnbc.com/2023/12/13/fed-interest-rate-decision-december-2023.html

[iv] https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/historicotaxasjuros

[v] https://realeconomy.rsmus.com/fed-signals-end-of-rate-hikes-and-projects-cuts-in-2024/#:~:text=Dot%20plot,policy%20rate%20stands%20at%202.5%25.

[vi] Estimativa do JPMorgan e Banco C6 em janeiro de 2024.

[vii] https://www.infomoney.com.br/mercados/apos-melhor-mes-em-tres-anos-ibovespa-seguira-rali-em-dezembro-e-renovara-maxima-historica/

[viii] https://www.nasdaq.com/articles/monthly-market-wrap-december-2023

[ix] https://investnews.com.br/infograficos/ibovespa-em-2023-ano-que-comecou-com-incertezas-termina-com-recorde-historico/

[x] https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/indicadores-economicos/