Por Nycolle Soares
Cada profissão possui seus desafios e ganhos, e cada profissional guarda dentro de si razões muito particulares para se orgulhar do ofício que escolheu. Dentro dessa lógica, explicar por qual razão se é um advogado devotado, não é uma tarefa fácil.
Ser advogado muitas vezes é ser absolutamente incompreendido, já que é da natureza humana escolher um lado e entender que aquela visão é a correta. Como compreender que é necessário e possível que exista alguém para defender o posicionamento contrário?
Na advocacia o conflito é inevitável, o que não quer dizer que o choque de interesses precise obrigatoriamente gerar embate. Os conflitos existem, e o desafio é lidar com eles tendo a ética e o bom senso como norte, mesmo que em muitos momentos isso pareça ser impossível.
O que poucos sabem é que advogar exige que, naquelas situações mais difíceis em que os sentimentos podem ser um obstáculo, precisamos guardar os nossos em algum espaço dentro de nós em que eles possam ser contidos, para que a racionalidade faça o seu papel de proteger o ”sentir” dos nossos clientes.
E mesmo nas causas em que as razões parecem ser objetivas e até numéricas, nós sabemos que em cada processo há gente ali. Cada linha narrada é um pedaço da vida de alguém que precisa ser representado!
E como pesa essa representação. Dizer pelo outro aquilo que ele busca. Saber escolher as palavras certas, os artigos necessários, os precedentes que fazem sentido e, no fim, esperar que a decisão que virá faça jus ao trabalho realizado.
Narrando assim, com a imagem dos sentimentos guardados em algum lugar, de longe fica fácil pensar que Advogados conseguem não sentir, e isso não é verdade. Em muitos casos sentimos tanto e sentimos muito, a diferença é que isso não pode nos impedir de seguir em frente. Amanhã teremos outro caso para defender.
As procedências virão e as improcedências também, e dia após dia, em um ritmo que está cada vez mais acelerado, precisaremos nos atualizar e adaptar em uma velocidade quase desumana. O quer era ontem, já não é mais hoje e do amanhã não é possível sequer esperar.
E advogar também é um equilíbrio ingrato entre saber esperar e não deixar de insistir, em um movimento cansativo e difícil entre compreender o momento certo para agir em qual instante é preciso parar.
Parar é sempre a exceção. Não paramos os dedos nas nossas mesas, eles insistem em digitar rapidamente no teclado do computador, temos agora ainda, o desafio de estarmos sempre conectados em nossos celulares, digitando, em ligações, gravando áudios, sempre tentando fazer com que o cliente compreenda o que precisa ser explicado.
Traduzir o saber jurídico repleto de palavras difíceis para aqueles que querem entender quais são seus direitos, que missão!
De incompreendidos a tradutores, de insistentes a pacientes, de agitados a serenos, guardamos o benefício de sermos como precisamos ser para cada novo desafio que surge. O que não muda é que o advogado por natureza, não desiste.
E do que mais não desistimos é da defesa dos direitos, principalmente do direito que todos devem ter, de poderem ser defendidos. Não é simples, não é fácil e não é para todos, mas quem é para a Advocacia, não há jeito de não o ser!
Em mais um mês de agosto, o mês da Advocacia, que possamos comemorar quem somos sabendo exatamente por quais razões escolhemos ser quem nos tornamos: advogados, sempre e em todo lugar, mesmo que seja difícil explicar!
Advogada. Sócia e Gestora Jurídica do Lara Martins Advogados. MBA em Direito Médico e Proteção Jurídica Aplicada a Saúde. Pós-Graduada em Direito Civil e Processo Civil. Analista de Finanças pela FGV. Especialista em Ética e Compliance na Saúde pelo Einstein. Presidente do Instituto Goiano de Direito Digital – IGDD/GO