Por Nycolle Soares.
O ambiente hospitalar, que para alguns era uma realidade distante, acabou se tornando uma parte do nosso cotidiano no momento em que o mundo se viu em uma pandemia. Com essa luz de fogo acesa sobre esse cenário, passamos a nos deparar cada vez mais com informações que nem sempre fizeram sentido em outro contexto, como regras sobre entrada e saída, determinações para permanência, e uma série de delimitações que para muitos são novidades e para o ambiente hospitalar é uma constante.
Apesar desse esforço significativo para conscientização e educação de todos, passou a ser quase que uma rotina se deparar com notícias em jornais e revistas sobre comportamentos de pacientes que excediam todas as normas das instituições de saúde, e colocavam sua própria segurança em risco.
Fotos e vídeos com a divulgação de pessoas, espaços e informações as quais não havia qualquer autorização para captação e compartilhamento das imagens, deixaram de ser uma exceção e se tornaram uma nova realidade, ainda que as instituições tenham regras claras e realizem um trabalho de ampla comunicação com os pacientes, o comportamento inadequado permanece.
Até mesmo condutas que se imaginavam improváveis passaram a acontecer, como o post de uma paciente que tem mais de doze milhões de seguidores em uma rede social, e veicula um vídeo em que ela fica em pé na cama em seu leito. A queda de pacientes em ambiente hospitalar é um dos eventos a que se destina muita atenção para que esse tipo de evento seja sempre evitado, e é um porque, além de ser multifatorial, depende também do comportamento dos pacientes e familiares – uma variável difícil de ser controlada. Mas análises de revisões sistemáticas sobre o assunto sugerem que a adoção de medidas organizadamente, pode reduzir em até 30% o número de quedas[1].
Recentemente um paciente foi obrigado a remover de sua rede social, um post que havia feito onde fora divulgado imagens de uma instituição hospitalar em que existiam regras expressas que proibiam tal conduta. O paciente, que tem um grande engajamento nas redes, informou em um novo post que fora obrigado a remover a publicação devido a questões burocráticas e de políticas de privacidade do hospital, já que ele não tinha autorização para filmar o conteúdo. O hospital era o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
As instituições hospitalares que passam na atualidade por um momento extremamente desafiador, não só pela pandemia, mas também pela exposição excessiva por parte dos pacientes e a velocidade da comunicação, precisam se posicionar do modo firme, sempre baseadas em normas internas criadas de maneira equilibrada e observando a legislação vigente para ter ferramentas eficazes para barrar os excessos dos pacientes.
Muito se fala sobre eventuais erros que possam ser cometidos por profissionais da área da saúde, mas pouco se fala sobre condutas inadequadas dos pacientes que geram danos a eles mesmos, aos profissionais e as instituições. Por isso colocar este assunto em pauta, se torna urgente e necessário, para que as instituições fiquem preparadas caso tais eventos aconteçam.
[1] 4) Miake-Lye, I. M., Hempel, S., Ganz, D. A., & Shekelle, P. G. (2013). Inpatient Fall Prevention Programs as a Patient Safety Strategy. Annals of Internal Medicine, 158(5_Part_2), 390. doi:10.7326/0003-4819-158-5-201303051-00005.
Advogada. Sócia e Gestora Jurídica do Lara Martins Advogados. MBA em Direito Médico e Proteção Jurídica Aplicada a Saúde. Pós-Graduada em Direito Civil e Processo Civil. Analista de Finanças pela FGV. Especialista em Ética e Compliance na Saúde pelo Einstein. Presidente do Instituto Goiano de Direito Digital – IGDD/GO