Por Rafael Lara Martins
A proposta do nosso escritório esse ano foi pedir a todos os advogados responderem a duas perguntas: por que advocacia e por que fazer parte do Lara Martins Advogados.
Eu pensei muito sobre isso e são tantas coisas, tantas razões, tantos sentimentos que, contraditoriamente, não se traduzem em palavras – justo eu, advogado, talhado para transformar em palavras direitos, problemas, sentimentos e até pensamentos em palavras.
Curioso é que eu não sou daqueles que pensava em ser advogado desde criança. Para falar a verdade eu nunca nem pensei em fazer o curso de direito. Talvez influenciado por uma árvore genealógica com apenas dois cursos superiores e ninguém vinculado – ainda que indiretamente – ao direito em qualquer de suas infinitas possibilidades.
Meus pensamentos navegavam pela educação física, jornalismo, publicidade… e com o passar do tempo e o início dos últimos anos pré-vestibulares fui encantado pela carreira diplomática (e para falar a verdade também não sei de onde veio isso). Mas veio o vestibular e até hoje sem entender muito os motivos humanos e quiçá divinos (em uma história longa demais para contar aqui) acabei me inscrevendo em Goiânia para o curso de direito. Quando dei por mim, estava matriculado de manhã na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás.
Pensa que daí surgiu a advocacia? Não mesmo. Todos ao redor diziam que concurso era a solução óbvia. E fui levando a faculdade, sem expectativas, mas me encantando em todos os anos do curso por um mundo que particularmente não fazia a menor ideia de existir. Uma mistura de inocência ou incredulidade. Fiz estágio de iniciante, fui diretor de Centro Acadêmico e até passei em um concurso público – me tornei empregado público na Caixa Econômica Federal – orgulho da vovó!
Pouco mais de um ano lá eu percebia que não era aquilo. Não dava para explicar, mas dentro de mim sabia que não pertencia àquele mundo. Passei na prova de estagiário do MP e pedi demissão – para desespero da vovó! Lá passei meus quase dois últimos anos de estágio. Serviu para me demonstrar que o mundo do concurso público não era bem o que aquele sentimento dentro de mim gritava – mesmo que à época eu não conseguisse entender o que esses gritos significavam. Saí do estágio e resolvi buscar um estágio em algum escritório de advocacia.
Distribuí currículo na cidade inteira. Mas a porrada que recebi foi: um estagiário de último período, sem experiência significativa em escritório de advocacia e que tinha passado e pedido demissão em um concurso público não era exatamente o perfil de estagiário que buscavam (e ainda buscam) os escritórios. Recebi inúmeros nãos – para falar a verdade, na imensa maioria das vezes nem um “não” eu cheguei a receber, era simplesmente ignorado (essa é uma outra longa história e com muitas consequências que um dia eu posso contar). Eu sentia que eu precisava ao menos experimentar a advocacia antes de iniciar de fato os concursos – meu caminho previamente escrito por quem não ouvia as vozes dentro de mim.
Minha única saída: abrir meu próprio escritório junto com meu melhor amigo de faculdade (o Dan, que saudade dele!). Confesso que foi a experiência que mudou minha vida. Dois amigos em uma mini-sala próxima ao fórum, mal equipada, onde nós dois éramos o corpo jurídico, a equipe de estagiários, o suporte administrativa, secretária, recepcionista e fazíamos a limpeza. Absolutamente tudo era feito por nós.
De repente algumas pessoas começaram a confiar em nós. A multa de trânsito, o nome no Serasa, a pensão que não era paga, o empregado que não tinha carteira assinada, o acusado preso no final de semana e a conta que não foi recebida. Era um mundo infindável de problemas que esperavam soluções. Perceber que eu era bom naquilo – e o melhor – que eu amava fazer aquilo começou a fazer aquelas vozes dentro de mim serem absolutamente compreensíveis. Descobri que nasci para uma profissão que eu passei a infância e adolescência sem fazer ideia de que ela existia: a advocacia.
Não foi fácil. Nenhum pouco. Demorei muito para começar a ganhar algum dinheiro e viver com dignidade da profissão (mais do que cinco anos, garanto). Mas eu nunca pensei em desistir! Depois daquela salinha ao lado do fórum, minha vida profissional mudou muito – mas essa também é uma outra história longa demais para o dia de hoje. Os anos se passaram e dezembro de 2014 veio o Lara Martins Advogados (em outra longa história a ser contada).
Hoje, véspera do dia dos pais, eu me vejo realizado na escolha profissional. Vejo meu filho olhar para mim e dizer que “quer ser advogado igual ao papai”. E isso me faz ir frente, não apenas no meu escritório, mas com um sentimento de querer que a advocacia continue sendo uma profissão respeitada e viável até que chegue sua hora e ele possa decidir se vai ou não seguir na profissão – mas com muito orgulho da história ética que quero construir.
Nesse dia do advogado, olho para trás e penso: ser advogado é isso! É acreditar, perseverar e, acima de tudo, é ser apaixonado pelo que faz, pois com paixão é impossível dar errado.
Impossível ser mais orgulhoso de uma profissão. Feliz dia do advogado a todos vocês, meus colegas, que também se orgulham e movem, com paixão, a mais bela profissão.
Advogado. Sócio nominal. Doutorando em Direitos Humanos pela UFG. Mestre em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas (UDF). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG), especialista em Direito do Trabalho pela PUC-GO. Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (gestão 2022/2024).