Por Juliana Mendonça.
Nesta quarta-feira, dia 11 de novembro de 2020, comemora-se para uns, lamenta-se para outros, os três anos da reforma trabalhista.
A entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017, a chamada Reforma Trabalhista, trouxe mudanças significativas na CLT, com alteração de mais de 110 dispositivos, o que impactou a sociedade como um todo, sendo empregados, empregadores e sindicatos. Tais mudanças foram vistas por uns como precarizações de direitos e por outros como uma forma de desburocratizar as negociações entre empregados e empregadores. Dessa forma, é quase impossível destacar aqui todas as mudanças sofridas nesses três anos, mas esclareceremos aqui os dez temas mais questionados no meio corporativo. Confira:
- Teletrabalho – O empregado pode trabalhar fora do ambiente físico da empresa, utilizando de meios telemáticos como aplicativos, computadores, celulares, tablets e outros para desenvolver o seu trabalho. Para que haja a mudança da modalidade física para o teletrabalho deve o empregado concordar, porém, no caso de reversão do teletrabalho para o trabalho nas dependências da empresa, basta o empregador dar um prazo mínimo de 15 dias para o trabalhador se adequar à nova realidade, não sendo necessária sua anuência. Diante da ausência de fiscalização direta do empregador, o empregado que trabalha na modalidade de teletrabalho não tem direito a horas extras.
- Trabalho Intermitente – Essa nova forma de contratação deve ser realizada por escrito e alterna períodos em que o empregado executa atividade com períodos de inatividade. Esse trabalhador é contratado por períodos (dias, horas ou meses), bastando a convocação pelo empregador por meio eficaz no prazo de três dias corridos.
- Banco de Horas – Pode ser feita por negociação individual escrita a compensação de um acréscimo de horas trabalhadas em um dia por uma redução no número de horas trabalhadas em um período de 6 meses, sem que haja necessidade de pagar horas extras. Antes da reforma o banco de horas era permitido apenas por meio de negociação coletiva.
- Jornada de Trabalho – 12 horas de trabalho por dia com 36 horas seguidas de descanso. Essa que sempre foi uma jornada em exceção na legislação, mas com a reforma trabalhista, passou-se a ser considerada normal, bastando haver interesse de ambas as partes.
- Descanso para alimentação e repouso (Intervalo Intrajornada) – por negociação coletiva – mediante intermédio do sindicato – pode ser reduzido o intervalo mínimo de 1 hora para 30 minutos.
- Pausa amamentação – A mãe que possui criança com até seis meses de idade tem direito a duas pausas de 30 minutos cada. A novidade veio com a possibilidade de essa mãe poder negociar com o empregador para que ela possa juntar as duas pausas para sair mais cedo ou chegar mais tarde, dando ampla liberdade para ser negociado os horários de descanso para amamentação.
- Horas in itinere e tempo à disposição – O tempo gasto para ir e voltar do trabalho em transporte fornecido pelo empregador não é mais considerado como tempo de trabalho, nem mesmo se o local de trabalho for de difícil acesso. As atividades de estudo, higiene pessoal, troca de uniforme e alimentação, também deixaram de ser considerados como tempo de serviço efetivo.
- Férias – Por interesse do empregado e do empregador pode ser feito o fracionamento das férias em até três períodos, desde que um período seja de no mínimo 14 dias e os demais períodos não sejam menores que 5 dias. Lembrando que, não pode iniciar o gozo das férias no período de 2 dias que antecede o repouso semanal remunerado ou feriados.
- Prêmio, ajuda de custo e diárias de viagens – Esses benefícios, independentemente do valor e da periodicidade, não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário.
- Demissão por mútuo acordo – O empregado que quer sair da empresa pode negociar com o empregador que não queira mais sua permanência no trabalho. Para haver o encerramento do vínculo de emprego, o empregado garante o recebimento das verbas rescisórias na integralidade, salvo a multa fundiária e o aviso prévio indenizado, que ambos serão pagos a metade. Quanto ao FGTS depositado na conta vinculada, o empregado receberá 80% do valor e não terá direito a receber seguro-desemprego.
Com a pandemia do coronavírus que temos enfrentado, diversas situações trazidas com a reforma trabalhista foram essenciais para que houvesse os menores prejuízos possíveis nesse tempo isolamento, a exemplo do teletrabalho e banco de horas, ambos dispositivos amplamente utilizados para garantir a manutenção dos empregos.
Entretanto, nem tudo são flores e, vários dispositivos reformados trazem insegurança jurídica, sendo motivo de questionamento a sua inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, como o contrato de trabalho intermitente, tarifação do dano moral, índices de correção monetária dos processos trabalhistas, dentre outros.
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Advogada. Sócia do Lara Martins Advogados. Mestra em Direito Constitucional Econômico. Especialista em Direito e Processo do Trabalho. Diretora do IGT – Instituto Goiano de Direito do Trabalho. Diretora da AGATRA – Associação Goiana dos Advogados Trabalhistas. Gestora sênior do núcleo trabalhista de alta e média complexidade com foco em demandas especiais de pessoas físicas. Professora de Graduação e Pós Graduação.